Já imaginou percorrer a pé uma estrada que passa por 4 países, numa rota milenar que atravessa campos, montanhas, lagos e até a primeira estrada construída pelos romanos? Essa é a experiência de fazer uma peregrinação na Via Francigena, a mais importante rota em direção à Roma na Idade Média.
Também conhecida na Itália como “Via Romea Francigena” (em tradução livre, “a estrada para Roma que vem da França”), a rota na verdade tem seu ponto de origem além do Canal da Mancha, na cidade inglesa de Canterbury. França, Suíca e Itália completam a lista de países cortados pela Via Francigena, mencionada pela primeira vez num pergaminho do ano 876, embora já fosse bastante utilizada bem antes por soldados, comerciantes e peregrinos que viajavam para visitar a Santa Sé e o túmulo dos apóstolos Pedro e Paulo. Embora muitos viajantes terminassem sua peregrinação em Roma, outros continuavam descendo a Itália pela região do Lácio até chegar ao porto de Brindisi, de onde embarcavam em direção à Terra Santa.
Vai viajar para o exterior e quer manter seu número no whatsapp? Já chegue no seu destino com o celular funcionando. O meu Chip oferece plano de dados ilimitados com roteamento gratuito nos Estados Unidos e em vários países, para que você fique conectado na internet. O chip Europa tem velocidade 4G ligações ilimitadas e funciona em toda União Européia! Utilize o cupom para ganhar 15% de desconto VIAJANTE! |
Daí a importância da Via Francigena, que liga dois dos três principais destinos das peregrinações medievais – Roma e Jerusalém – faltando apenas Santiago de Compostela na Espanha. Mas o mais interessante é que a Via Francigena não é uma estrada, e sim um conjunto de caminhos alternativos que foram sendo utilizados e esquecidos ao longo dos séculos conforme a situação política mudava, o comércio se desenvolvia, conflitos aconteciam e relicários de determinados santos pelo caminho tornavam-se mais ou menos populares.
Por isso é difícil definir uma só rota para a Via Francigena e também determinar precisamente sua extensão (são aproximadamente 1800km), mas um diário de viagem do final do século X tem ajudado os aspirantes a peregrinos a planejar seu trajeto. Foi em 990 que o Arcebispo da Cantuária, Sigerico, fez a viagem de Canterbury até Roma para receber seu pálio das mãos do Papa. No caminho de volta ele registrou as 79 paradas que fez pelo caminho, um itinerário que ainda hoje centenas de peregrinos escolhem seguir todos os anos a pé, de bicicleta ou cavalgando.
Como parte do Italian Wonder Ways eu pude conhecer parte da Via Francigena del Sud, o conjunto de estradas ainda menos conhecido pelos peregrinos, que segue de Roma até Brindisi. Começamos nossa aventura em Formia, ao sul de Roma, e durante 6 dias fomos subindo, passando por Itri, Fondi, Terracina, Priverno, Anagni, Piglio e Nemi antes de chegar em Roma. Essas foram as atrações que descobri pelo caminho:
Via Appia
A mais antiga estrada romana, construída pro volta de 312 a.C. para facilitar o deslocamento militar até o Mediterrâneo, caminhar pela Via Appia hoje em dia é uma experiência muito interessante. Imaginar que sobre aquelas pedras passavam carruagens levando líderes militares do Império Romano até campos de batalha, a influência da estrada no desenvolvimento da economia, o surgimento de centenas de vilas, cidades, hospedagens, bares, estábulos e tantos outros lugares, desbravando o território onde antes só existia vegetação…
O que começou como uma estrada de 300 quilômetros ligando Roma a Cápua posteriormente dobrou de tamanho para chegar até Brindisi, no “salto” da bota da península italiana. A Via Appia foi uma das obras mais ousadas do império e não dá nem para mensurar sua importância para a história do ocidente, é um desses lugares que apesar de “não ter muita coisa pra ver”, tem tudo!
Formia
A pequena cidade de Formia tem opções ao ar livre para todos os tipos de peregrinos – dá pra visitar a praia, o centrinho histórico e subir 1500m até o topo das montanhas no mesmo dia. Construída ao longo da antiga Via Appia como a maioria das cidades que visitamos, Formia abriga um mosteiro beneditino do século XVI (a Parocchia Sant’Erasmo, onde Santo Erasmo supostamente foi assassinado no século III), o mausoléu de Cícero, uma cisterna romana que data do século I a.C. e muitas outras igrejas, ruínas e villas.
Itri
Palco de batalhas por causa de sua proximidade com um importante estreito da Via Appia que cortava o Monte Aurunci, Itri foi fundada à medida que a estrada foi sendo mais utilizada e seus primeiros moradores tinham como endereço a própria Via Appia. Algumas marcas desses período ainda podem ser vistas nas construções da cidade, que teve 75% de seus edifícios destruídos durante a Segunda Guerra.
Uma das atrações mais importantes da cidade é o Castelo Medieval de Itri, construído em 882 e que oferece uma vista linda de toda região. Mas foram as famosas azeitonas Gaeta que roubaram a cena da nossa visita – as azeitonas típicas da cidade são a matéria prima de um dos azeites mais deliciosos (e premiados!) da Itália.
Fondi
Apesar de ter adorado conhecer o Castelo Caetani, o Museu Judaico de Fondi e me perder pelas vielas do centro da cidade, não dá para competir com o Mosteiro de San Magno. Reconstruído no começo do século XV e com uma história que data desde o século VI (ele é o mais antigo da Itália central, quiçá do país), o mosteiro tem a filosofia de acolher toda e qualquer pessoa que cruze seus portões.
A paz que esse lugar transmite é quase palpável – visitantes são recebidos e têm seus pés lavados pelo monge responsável pelo mosteiro, que também oferece acomodação e comida de graça para os peregrinos. Foi lá que encontramos nosso primeiro “peregrino de verdade”, o belga Michel Goletti, que havia partido de Inverness na Escócia há 130 dias com sua cadela Laika e caminhava em direção ao sul da Itália.
Terracina
Essa cidade litorânea a pouco mais de 100km de Roma vê sua população dobrar de número durante o verão, mas engana-se quem pensa que Terracina só tem praias. Seu nome original, Anxur (Júpiter, patrono da cidade), entrega uma parte do seu passado – Terracina foi fundada pelo povo volsco e só posteriormente conquistada pelos romanos, o que resultou numa mistura de referências culturais e arquitetônicas e transformou a cidade num verdadeiro museu a céu aberto.
As principais atrações da cidade são o Templo de Giove Anxur, o Parco della Rimembranza (parque, memorial da Primeira Guerra e um oásis no centro histórico da cidade), a Catedral de Terracina na pracinha principal, a Igreja do Purgatório (único exemplar de arquitetura barroca na cidade e decorada com afrescos de esqueletos), entre outras ruínas, templos e pracinhas. Além de parade obrigatória para os peregrinos caminhando na Via Francigena do Sul, Terracina é também uma boa opção de bate e volta a partir de Roma.
Abadia de Fossanova
Um detalhe interessante sobre a Via Francigena é que em vez de ligar cidades, assim como as outras estradas romanas, a VF conectava abadias. E uma das abadias mais importantes do trajeto fica perto de Priverno: a Abadia de Fossanova, inaugurada em 1208 e famosa por ser o lugar onde São Tomás de Aquino morreu, em 1274.
A abadia é um dos grandes monumentos góticos italianos, e impressiona tanto pela sua grandiosidade quanto pela simplicidade do seu interior todo em pedra. O objetivo era construir uma igreja que tivesse apenas o essencial, onde o foco fosse a espiritualidade e não os ornamentos. Na Abadia de Fossanova ainda pode-se visitar o quarto onde São Tomás passou seus últimos dias de vida (o guia nos contou que ele estava viajando muito doente, sabia que seria fatal e queria muito morrer numa abadia).
Via Francigena: dicas práticas
- O site oficial da Via Francigena oferece informações valiosas para quem planeja fazer essa caminhada, com itinerários, mapas de todos os países cortados pela estrada, aplicativo para celular, a credencial oficial de peregrino e lista de onde dormir durante sua peregrinação.
- Quando ir: dê prioridade ao meses de maio/junho ou setembro/outubro, respectivamente primavera e outono no hemisfério norte, para não passar tanto calor e nem sofrer viajando no inverno;
- O que vestir: nada de jeans e chinelo, usar roupas leves e próprias para caminhada é essencial quando se pretende passar dias a fio na estrada. Invista numa boa bota de caminhada, peças de roupa tecnológicas que facilitem a evaporação do suor, um bom casaco corta vento, meias anti-calos, um boné e sombrinha/capa de chuva;
- Por causa da menor oferta de hospedagem ao longo da Via Francigena, a maioria dos visitantes prefere acampar. Entretanto o número de locais oferecendo acomodação gratuita ou com desconto para peregrinos na Itália está aumentando – clique aqui para ver a lista completa na Via Francigena;
- E o mais importante: encomende sua Credencial do Peregrino! Ela funciona como uma carteira de identidade, comprovando que você está fazendo uma peregrinação e possibilita o acesso a esses locais de repouso ao longo do caminho.
O Aprendiz de Viajante foi convidado para participar da primeira press trip do Italian Wonder Ways , um projeto que reuniu jornalistas, blogueiros e influencers do mundo todo com o objetivo de promover os caminhos de peregrinação na Itália e desenvolver o turismo sustentável na região. São cinco caminhos independentes (Via Francigena, Cammino Francescano della Marca/Via Lauretana, Via Amerina, Via di Francesco e Cammino di San Benedetto) que cortam o país passando por reservas naturais, vilas medievais, catedrais, rios, plantações, mosteiros e locais importantes para a história do catolicismo no país. Toda a viagem foi custeada pelos patrocinadores, mas isso não interfere com o conteúdo publicado no blog. Nós temos total liberdade para escrever sobre o que quisermos
Quem viajou representando o Aprendiz de Viajante foi a Thaís, que mora em Londres e escreve o blog Sete Mil Km. Siga a Thaís também no Instagram.
[…] Via Francigena na Itália: história e paisagens maravilhosas […]
[…] Via Francigena na Itália: história e paisagens maravilhosas […]
[…] Via Francígena é como o Caminho de Santiago. Tem um blog sensacional que explica tudo direitinho https://www.aprendizdeviajante.com/via-francigena-na-italia/ […]
Gostaria de saber qual a quilometragem de Formia a Roma pela Via Francigena? Aconselha fazer de bike?
Dá uma olhada no http://www.google.com/maps